Holambra (11 – Final): Os Anônimos

Devido a devastação da 2° Guerra Mundial, o governo holandês incentivou a imigração. Para os que escolheram o Brasil, por este aceitar imigração de grupos e católicos, grande numero de famílias já formadas e outros muitos solteiros, chegaram nas pobres terras da Fazenda Ribeirão, com a esperança e fé em uma vida melhor!

Infelizmente, este sonho não foi fácil! Uma viagem de semanas no balançar do navio, doenças, fome e desconforto. Uma chegada com surpresas no desconhecido. Um Brasil lindo, mas muito atrasado ao que estavam acostumados, mesmo em tempos de guerra. Muito trabalho, dia e noite. Muitos improvisos. Muito calor e muita saudade da família que ficou na Holanda.

Produções agrícolas e pecuária perdidas por doenças tropicais e o sistema cooperativista pressionando. Muitos imigrantes não conseguiram aguentar a pressão e a falta de comida na mesa para seus filhos. Muitos voltaram para casa e outros muitos foram se aventurar em outras colônias holandesas, mais ao sul do Brasil.

Os que ficaram, enfrentaram a todos os obstáculos, com determinação e união. A palavra Cooperativa não era empregada só na forma administrativa, mas era usada  principalmente entre famílias e vizinhos. O pensamento de “Eu tenho um cavalo, mas não tenho a carroça. Meu vizinho tem a carroça e não tem o cavalo. Então eu vou emprestar o meu cavalo a ele e ele me emprestará sua carroça.”, era o que sustentava todos em pé! Um ajudava o outro!

Um nome se destacou, pois foi ele o idealizador do projeto que construiria no Brasil, vida nova para centenas de imigrantes, o Senhor Jan Geert Heymeyer. Mas nem tudo caminhou dentro de seus planos. Muitos foram os momentos tensos, de insegurança, de angustia e desanimo para os recém chegados.

Para quem veio acompanhando as minhas historias aqui, conseguiu “sentir” um pouco, da saga vivida pelos pioneiros holandeses. Mas a geração que ainda vive, ou era muito jovem na época, ou nasceu depois dessa grande luta, certamente não sentiu na “pele”, muito do que os nossos heróis enfrentaram!

Em vários momentos ao longo de minhas entrevistas, com diversas pessoas que viveram esta historia real, uma pausa foi necessária para enxugar lágrimas. Algumas lembranças afloraram em hastes cheias de espinhos. Lembranças de momentos passados por nossos pioneiros nos primeiros anos e que, na época, não podiam ser ditas ou compartilhadas, nem mesmo com os familiares, vizinhos e amigos. Cartas escritas passaram por censura antes do envio. Cartas recebidas chegavam às mãos do destinatário, já abertas. Fotos tinham que ter sorrisos. Apenas a imagem de um povo feliz e próspero podia ser apresentada. O argumento para esta censura, foi de que o governo holandês deveria receber a informação positiva da imigração, para manter o seu apoio financeiro.  Esta “censura” se contada, não faria desta “A Conquista”, uma leitura agradável! Então coube a mim, respeitar o desabafo por anos contido e apenas transcrever os momentos superados com orgulho.

E cabe a mim, em nome da primeira geração nascida na abençoada terra da Fazenda Ribeirão, homenagear os primeiros solteiros e primeiras famílias a pisarem nestas terras, entre os anos de 1949 a 1955. Os anos mais difíceis, onde o cerrado teve que ser desmatado e transformado em lavouras. Casas tinham que ser construídas. Anos em que o papel moeda não podia vir na bagagem. Anos sem água encanada e sem energia elétrica. Anos em que a saudade da família distante, ficou sem comunicação!

Foram mais de 700 pessoas que, entre suor e lágrimas, acreditaram na oração proferida pelo Sr. Heymeyer ao enfincar a pá simbolizando a colonização, “Deus Abençoe o Nosso Trabalho”.

Muitos são os nomes que aparecem em destaque, na história de Holambra. Alguns nomes vieram para ocupar funções específicas na parte administrativa da cooperativa. Mas muitos outros dedicaram de forma voluntaria, o seu tempo entre a produção em sua propriedade e ajuda à construção da comunidade. Desde a arborização de ruas, organização de confraternizações coletivas e vida religiosa, assistência em saúde, até a educação e desenvolvimento cultural da nova e primeira geração.

São nomes que não são citados, e mesmo tendo entre eles vários que, por suas razões mais intimas, acabaram deixando a Fazenda Ribeirão e que junto com outras centenas de nomes brasileiros, merecem o nosso mais profundo RESPEITO! Foi por elas, que escrevi estes textos, para que suas lutas não caiam no esquecimento e que, em tempos de hoje, possam servir de exemplo para as “novas” dificuldades.

Que sejam lembrados todos os Wilhelmus e os Guilhermes, os Josepfus e os Josés, os Johannes e os Joãos, os Klein Gunnewie’s e os Silvas, os Palmens e os Martins, os Walravens e os Souzas… Que nenhum nome seja esquecido!

E que as lágrimas entre sorrisos das pessoas que me ajudaram a contar esta saga, possam nos fazer a todos, agradecidos por terem feito a nossa história!

A parte histórica foi transcrita por mim, com pesquisas junto à diretoria executiva da cooperativa, em 1981 e junto com alguns pioneiros fundadores. Em forma resumida, este texto foi depois utilizado em sites ligados à Cooperativa e comunidade, bem como utilizada pela PUCC Campinas em cursos de turismo.

Mais tarde, em 1998 após deliciosos momentos de entrevistas, foi acrescentado os momentos de vivencia de nossos imigrantes, formando crônicas e publicadas no jornalzinho mensal da Paróquia do Divino Espirito Santo e agora, de forma mais pública, postadas aqui.

Fizeram parte destes relatos, os voluntários nos Oliebollen do Museu Histórico nos anos de 1990, entre elas Sra. Oude Groeniger, Sra. Graat, Sr. e Sra. Domhof, Sra. Korstee,  e  Sr. Wim Eltink. Em entrevistas, as Irmãs do Santo Sepulcro, a Sra. Wagemker,  o Sr. Tico Gali, o Sr. e Sra. Antonio, Sr. e Sra. Alves, Sr. Zé Libano, Sr. Piet Pennings e Sra. Krabbenborg. Também em conversas deliciosas com o Sr. e Sra. Ten Buuren, Sr. Henk Klein Gunnewiek, Sr. Antonio Wopereis e Sra. Toos Miltenburg, além da minha vivência ao lado de um pioneiro fundador, o meu pai Wim Welle e minha mãe Floor.

Encerro aqui a historia coletiva dessa linda Holambra e quem quiser resgatar, podem encontrar cada uma delas nesta pagina,  mas em breve eu voltarei para contar a historia pessoal de um sonhador e sua difícil caminhada para realiza-lo, o Calça Curta – Wim Welle.

Obrigada por cada curtida, por cada comentário e por cada compartilhamento!

Pesquisa e texto : Catharine Welle Sitta

Colaboração Especial : Rita Gonçalves

Mais fotos na pagina de Facebook de Catharina Welle Sitta.


Een gedachte over “Holambra (11 – Final): Os Anônimos

  1. jan dijk Beantwoorden

    De naam Slump is ook veel voorkomend. Deze familie komt uit de prov. Groningen , omg. Slochteren

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